segunda-feira, 10 de agosto de 2009

2. O Legado de Carl Rogers

Creio que a mais importante implicação
de nosso trabalho para o futuro
é o nosso modo de ser.
Carl R Rogers.


Carl Rogers foi, em essência, um grande empirista em psicologia e psicoterapia. Empiris-ta, própria e especificamente, no sentido feno-menológico existencial da tradição de Brenta-no*. Talvez o maior, neste sentido, depois do próprio Brentano, ainda que nada tivesse da monumentalidade teorética e ontologista deste, mas especialmente dotado de grande originali-dade, e ousadia experimental. Na verdade, tal-vez, em grande parte, uma conseqüência lógica de Brentano, mas sem par dentro do movimen-to fenomenológico, e mesmo em psicologia e psicoterapia, na ousadia fenomenológico exis-tencial experimental. Assim, esspecificamente no sentido fenomenológico existencial, Carl Ro-gers foi um grande empirista, e um grande ex-perimentador.
Neste sentido, o empirismo, e a experi-mentação fenomenológicos existenciais -- que se constituem como o modo de sermos pré-teórico, pré-comportamental, pré-prático --, é o modo particular de sermos no qual efetivamos o ontológico de nossa condição humana, ou se-ja, o modo de sermos no qual vivenciamos pos-sibilidades, e vivenciamos o desdobramento destas possibilidades, no que entendemos co-mo ação, atualização.
Este modo de sermos, originário e onto-lógico, se caracteriza como o que os Gregos chamaram de Pathos, o modo sensível e emo-cionado de sermos. Que se constitui como compreensão, e no qual estamos implicados com as possibilidades que vivenciamos. E que é fundamentalmente diverso do modo de sermos da explicação: o modo teorético de sermos; e, igualmente, diverso do modo comportamental de sermos, do comportamento. Este modo de sermos que é da ordem da compreensão, modo de sermos empírico fenomenológico existencial, experimental, portanto, é o nosso modo páthico de sermos, empático (que significa dentro do pathos); e o modo de sermos, da compreensão, no qual vivenciamos possibilidades e o desdo-bramento destas possibilidades, e no qual es-tamos inextrincavelmente implicados em nos-sas possibilidades, e nos desdobramento destas, no que chamamos de ação, atualização.
À tendência para a ação, para a atuali-zação, característica do ser humano, e para a superação criativa, Carl Rogers chamou de tendência atualizante. Entendendo-a, com Kurt Goldstein, como a força motivativa básica do organismo e da pessoa humanos.
O privilegiamento deste modo compreen-sivo e empático de sermos, deste modo ativo e atualizante, é a característica maior da aborda-gem de Carl Rogers. Tanto enquanto concepção da metodologia básica da existência, na supe-ração de suas dificuldades, e da inércia de su-as condições dadas; como enquanto concepção e método de psicoterapia e de psicologia, inter-individuais, e de grupo.
Rogers entendeu, em particular, que a existência humana não se desdobrava e não se resolvia, não se desdobra nem se resolve, ao nível do modo humano teórico de ser; nem ao nível do modo técnico de ser; ou ao nível do modo comportamental de sermos. Da mesma forma que não se resolve ao nível do modo mo-ralista de sermos; nem mesmo ao nível do mo-do prático, nem do modo científico de sermos, nem mesmo do nosso modo realista de ser. E dedicou sua vida a desenvolver e a lapidar uma metodologia que pudesse propiciar, na imedia-ticidade da empiria existenciativa, o trabalho, a laboração experimental fenomenológico exis-tencial, as condições da ação, da atualização, em psicologia e psicoterapia. Uma concepção e metodologia empíricas e experimentais, no sen-tido fenomenológico existencial, compreensiva, e empática, portanto, de potencialização da a-ção, da atualização. Confiante nos potenciais fenomenais ativos de atualização do possível na vida das pessoas, como modo humano privile-giado de ser, como modo de resolução, e de su-peração, de condições existenciais, e como mo-do de crescimento humano.
Num primeiro momento, Rogers se dedi-cou ao desenvolvimento de uma metodologia que contivesse uma abertura fundamental, e condições propiciativas -- para o cliente, e para o terapeuta --, de momentos de vivência exis-tencial. Classicamente, Rogers definiu a consi-deração positiva incondicional pela vivência do cliente, a compreensão empática, e a genuini-dade do terapeuta, como condições terapêuti-cas básicas. Como condições propiciativas dos momentos do modo de sermos da vivência fe-nomenológico existencial, da ação, atualização e superação fenomenológico existenciais.
Simultaneamente mesmo, e a seguir, Carl Rogers estendeu o seu interesse, e a sua atividade, para o trabalho com grupos. O grupo e o processo grupal entendidos como ambiên-cia, e vivência fenomenológico existencial, pro-piciativos do privilegiamento do vivido – vivido, vivência, pontual e simultaneamente, pessoal e coletivo. E no desdobramento deste vivido, co-mo desdobramento, interpretação e ação, atua-lização, de possibilidades existenciais e de su-peração. Abriu e experimentou intensa e criativamente uma metodologia fenomenológico existencial experimental do trabalho com gru-pos que parte, fundamentalmente, de um pro-fundo respeito pelo grupo e pelas pessoas de seus participantes, em prticular naquilo que eles têm de mais essencial, a sua vivência pon-tual, fenomenológico existencial, de possibili-dades, possibilidades de ação, de atualização, de criação, de superação.
Grande empirista, no sentido fenomeno-lógico existencial, Rogers foi assim, também, um grande experimentador, igualmente neste sentido fenomenológico existencial. Tanto no âmbito da terapia inter-individual, como no sentido do trabalho de elucidação e compreen-são da natureza, e condições facilitativas dos processos grupais.
Junto com Fritz Perls, Carl Rogers des-ponta como uma das figuras maiores da expe-rimentação fenomenológico existencial, da con-cepção, definição metodológica, e proposição, de um paradigma fenomenológico existencial de psicologia, de psicoterapia, de concepção e de laboração fenomenológico existencial expe-rimental com grupos. Apontou um caminho conceitual de vastas possibilidades teóricas, e sobretudo empíricas.