segunda-feira, 10 de agosto de 2009

3. Psicologia e Psicoterapia Fenomenológico Existencial

Este ser humano é outro, essencialmente outro do que eu, e é esta sua alteridade que eu tenho em mente, porque é ele que eu tenho em mente; eu a confirmo, eu quero que ele seja outro do que eu, porque eu quero o seu modo específico de ser.
M. Buber

... Pois muito bem! Vamos lá, experimen-ta-te. Mas não quero voltar a ouvir falar de nenhuma questão que não autorize a experiência. Tais são os limites da minha ‘veracidade.
F. Nietzsche.

A possibilidade é mais importante do que a realidade.
M. Heidegger.

Quando nos referimos a psicologia e psicoterapia fenomenológico existencial queremos, especificamente, nos restringir, em nosso caso, à Gestal’terapia e à Abordagem Rogeriana. Outras abordagens, ainda, como a Dasein Análise, a Logo Terapia, o Psicodrama, por exemplo, podem ser entendidas como fe-nomenológico existenciais. No nosso caso, refe-rimo-nos especificamente, assim, às aborda-gens que se desenvolveram a partir dos trabalhos de Frederick S. Perls – a Ges-tal’terapia --, e a partir dos trabalhos de Carl R. Rogers. E que têm as suas raízes oriundas, de um modo importante, nos trabalhos de Kurt Goldstein e da Psicologia da Gestalt, raízes ori-undas da Filosofia da Vida de F. Nietzsche e W. Dilthey, da Fenomenologia da tradição de Franz Brentano, da Filosofia da Relação de M. Buber, e do movimento artístico do Expressio-nismo.

Os trabalhos de Perls, e de Rogers, des-dobraram importantemente, assim, no âmbito da psicologia e das psicoterapias, os trabalhos dos filósofos da vida, e dos fenomenólogos ini-ciais, assim como as posturas concepções e métodos expressionistas. Serviram importan-temente à experimentação e formulação de um paradigma de concepção e método fenomenoló-gico existencial, que se constitui no campo da psicoterapia e do trabalho com grupos, e que, daí, transborda para outros campos de aplica-ção da psicologia, como a educação, a psicolo-gia ambiental, a psicologia da organização e do trabalho, a psicologia comunitária, a psicologia hospitalar, do esporte, e outras.

Dotadas cada uma delas de sua própria história, de concepções e fundamentos teóricos próprios, a Gestal’terapia e a Abordagem Ro-geriana compartilham origens em termos de Filosofia da Vida, em termos de Ontologia e de Epistemologia. E, na verdade, convergem em seus desdobramentos, na medida em que se configuram ambas como concepções e metodo-logias fenomenológico existenciais, experimen-tais, de criação – no âmbito da laboração psico-lógica e psicoterapêutica -- de condições her-menêuticas de interpretações do ser-no-mundo, em suas possibilidades e possibilita-ções. Convergem e se complementam, mais do que se diferenciam.

De modo que, ainda que não se confun-dam em suas histórias e formulações originais, a Gestal’terapia e a Abordagem Rogeriana convergem, de um modo vigoroso, na colabora-ção no sentido da constituição da concepção e método de uma abordagem fenomenológico e-xistencial de psicologia e de psicoterapia, abor-dagem que se constitui basicamente como uma hermenêutica fenomenológico existencial da ação.